Gestores devem se apoiar na ciência para definir políticas públicas contra o coronavírus
A ciência ainda não conseguiu decifrar todos os aspectos que envolvem o novo coronavírus. Mesmo assim, é a única ferramenta confiável para o planejamento de políticas no combate à pandemia que já deixou milhares de mortos no Brasil e no mundo.
“Estamos em uma emergência pública, mas o gestor não pode dar um passo antes da ciência”, declarou o infectologista David Uip. “Só os cientistas serão capazes de dizer o que vai funcionar ou qual vacina sairá na frente. E o administrador não pode ser pego de surpresa, não pode estar alienado”, completou.
Integrante do Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo, o médico foi um dos convidados do debate on-line promovido pelo Observatório do Futuro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Também participaram do encontro o Conselheiro Sidney Beraldo e a Pós-Doutora em Microbiologia Natália Pasternak.
“Falar em imunidade para uma doença nova é nosso maior desafio porque não entendemos ainda como nosso sistema imunológico funciona diante desse vírus”, explicou ela. “Por isso, os gestores devem usar o que já sabemos que traz resultados e não procurar soluções mágicas, rápidas e baratas. Está provado, por exemplo, que o uso de máscaras e o distanciamento social reduzem a transmissão. Os governos também devem investir em comunicação clara e honesta e redefinir suas prioridades. Porque não dá para abrir tudo (shoppings, bares, escolas) ao mesmo tempo.”
Na avaliação do Conselheiro, uma das lições deixadas pela atual crise sanitária será a necessidade de planejamento preventivo e de choques de gestão.
“Estamos agora trocando o pneu com o carro andando”, afirmou. “Teremos um legado dramático pelas perdas que sofremos. Mas um aspecto positivo será a possibilidade de reconstrução de políticas públicas com base em todas as experiências que vivemos. Acredito que podemos dar um enorme salto de qualidade”, disse ele.
Isso será fundamental, afirmou a microbiologista, porque outras epidemias virão. “É um reflexo da nossa interação com o planeta. Teremos que repensar nossa atividade exploradora, desenvolver tecnologias sustentáveis e investir no desenvolvimento contínuo da ciência, de vacinas e de antivirais genéricos, para que não fiquemos tão vulneráveis.”
David Uip apontou ainda três grandes desafios a serem enfrentados, a curto prazo, pelos gestores: a retomada econômica, a volta às aulas e as eleições municipais, adiadas para novembro. “Não existe risco zero. Por isso, vamos precisar de políticas públicas sérias e muito bem orientadas.”
Outro fator importante no mundo pós-pandemia será o monitoramento de eventuais sequelas nos pacientes que já se recuperaram. Até agora foram detectadas disfunções no coração, cérebro, na visão e uma maior incidência de coágulos no sangue, o que pode causar derrames.
Para o Conselheiro Beraldo, o Programa Estratégia Saúde da Família (ESF), criado para a resolução de problemas na Atenção Básica, pode ser fundamental nesse processo. “Sou fã do SUS (Sistema Único de Saúde). Temos é que aperfeiçoar a gestão e ampliar recursos. Nesse contexto, acho que as equipes da ESF cumprem um papel extremamente importante. Devemos, quem sabe, é ampliar esse programa e capacitar mais as equipes.”
Quase mil pessoas acompanharam a discussão, entre representantes de Prefeituras, Câmaras Municipais, Secretarias Estaduais e de Conselhos de Saúde. Mediado pela coordenadora do Observatório, Manuela Prado Leitão, e realizado com o apoio da Escola Paulista de Contas Públicas (EPCP), o debate está disponível no link https://bit.ly/3krbFqf.
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Por: Tirbunal de Contas do Estado de São Paulo
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